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A histórica complexidade da questão ambiental no Brasil Amazônico: um breve resumo sobre a obra Políticas Territoriais na Amazônia, de Neli Mello

segunda-feira, agosto 24, 2009 5:16:00 PM

Aliar conceitos de desenvolvimento sustentável nas atividades econômicas vinculadas à região amazônica é, sem sombra de dúvida, uma tarefa que poderia ser cogitada como digna de ser incluída entre os “doze trabalhos de Hércules”, mediante o grau de complexidade, de importância e de polêmica. Todavia, constitui-se como uma via obrigatória a uma Nação que almeja revelar ao mundo que sabe cuidar de seus recursos naturais, que conhece o potencial geoecológico do maior bioma de florestas equatoriais do globo e que reafirma sua soberania sobre a maior parte desta fundamental região geoestratégica. Na delicada fronteira entre o conservacionismo e o desenvolvimentismo de suas regiões, Neli Aparecida de Mello em sua obra Políticas Territoriais na Amazônia, explora esse “campo minado” que se constitui a história dos projetos de colonização do Centro-Norte e Norte do Brasil, sempre de vital importância estratégica ao Estado Nacional mas também tão caro aos olhos de todos aqueles que se preocupam com a perpetuação da Amazônia.

De fato, a agressiva colonização amazônica, nos moldes que são divulgados nos meios de comunicação atuais, é conseqüência de uma relativamente recente história geopolítica de aproximadamente cinco décadas, fruto das preocupações do período do Estado Militar Brasileiro que não via com bons olhos as suas fronteiras desguarnecidas. E proporcional ao tamanho da preocupação estatal foi a voracidade colonizadora dos estados do Norte e Centro-Oeste, voracidade esta que via, com olhos de desconfiança, a sempre presente presença dos países vizinhos. O estágio inicial da colonização amazônica nos moldes militares, portanto, nasceu “estressada”, rapidamente pensada, desequilibradamente executada, forçosamente concretizada. As cicatrizes de mediante processo são hoje visíveis, tais como: os problemas com o desmatamento (principalmente nas áreas correspondentes ao Arco do Desmatamento), a carência metodológica de políticas efetivas de zoneamento estratégico para com as atividades econômicas da região, principalmente as vinculadas às atividades agropastoris (Mello, expõe e critica os problemas de nuance metodológica na própria execução de grandes planos geoestratégicos na área como o próprio PPG7 (Programa Piloto para as Florestas Tropicais do Brasil) e o próprio desconhecimento do que seja esse “gigante verde”, tão valorizado por todo o globo.

Novamente lembrando a agressividade colonizadora, a autora explicita a necessidade da consolidação da técnica e da metodologia como braços sustentadores da política de ocupação territorial amazônica. Uma região marcada pela complexidade paisagística e pelo abrangente potencial de seus recursos naturais somente terá uma efetiva política territorial (e ambiental) com a implantação de um arcabouço técnico-metodológico detalhado e eficiente. Entretanto, Mello, em toda a sua obra, faz alusão à extrema dificuldade em se conseguir esse grau técnico-metodológico nos projetos de ocupação da Amazônia, devido à grandeza e a multiplicidade dos interesses provindos dos diversos atores políticos inseridos no decorrer do desenvolvimento de toda a temática vinculada à Amazônia: grupos políticos, proprietários poderosos de terras, presença de empresas multinacionais na área, grupos de populações indígenas, extrativistas e sociais, a presença de entidades ligadas à distribuição fundiária, além da presença de associações ambientalistas de todo o planeta que exigem a perpetuação dos recursos naturais do bioma amazônico para as gerações futuras. Desse modo, percebe-se, de modo muito claro, de que as Políticas Territoriais na Amazônia são muito mais do que a fria coordenação e execução de decisões técnicas e metodológicas (que por si só já seriam de extrema dificuldade de execução, caso todos os atores estivessem de acordo com os seus pontos de vista sobre a área), mas são a junção apaixonada e consolidada de diferentes pontos de vista de personagens que não cedem em suas convicções, em seus planos e objetivos, o que leva, a uma das últimas áreas significativamente conservadas do planeta, a ser um “caldeirão” ambiental, social, político e geoestratégico.
Desse modo, a grande magnitude das políticas territoriais amazônicas assusta inclusive os profissionais que a estudam arduamente, e, a implantação de ações coordenadas, em distintas escalas, para os mais variados objetivos de colonização inseridos nos conceitos sustentavelmente aceitos, leva considerável tempo para a sua consolidação, tempo este que não se encontra constituído da mesma escala temporal dos desmatamentos, das ações predatórias e da ação agressiva de grupos que não conseguem ver ou não querer ver a concretização de políticas mais estruturadas ambientalmente que dotarão essa parcela do territorial nacional de uma maior organização, funcionalidade, respeitabilidade internacional e, inclusive, de um maior poder econômico. A extensa análise de Mello referente a essas políticas territoriais, enfocando profundamente os obstáculos e desafios dessas ações nas últimas décadas constitui-se como, portanto, um apelo voltado a uma visão mais profunda e coordenada do espaço amazônico, que, apesar de ser tão complexa quanto a própria Amazônia, não é somente possível, mas também uma obrigação para uma Nação que prima pela soberania de seus recursos e de suas fronteiras.

Comments:
André, subscrevo todas as palavras de Neli quanto à amazônia; morei na Transamazônica por cinco anos... Em livro (romance) sendo finalizado, brevemente contarei acerca desse período e experiência pessoal. abs
 
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