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Reflexões sobre a Educação Ambiental e o Brasil

segunda-feira, março 31, 2008 1:02:00 PM

A população mundial encontra-se cada vez mais familiarizada com os temas relacionados à discussão ambiental. Todos conhecem ou já ouviram falar, por exemplo, sobre temas como: a ação do efeito estufa excessivo e o processo de aquecimento global, a ratificação pelos países do Protocolo de Kyoto, os resultados e prognósticos das temperaturas médias globais para os próximos 100 anos pelo IPCC, os riscos de uma elevação dos oceanos com o aumento das temperaturas, a deflagração de um êxodo ambiental mundial e a formação de um contingente de milhões de refugiados ambientais. Todos observam esses temas, cada vez mais noticiados nos telejornais e Internet, e com preocupação perguntam sobre qual medida tomar e se ainda temos tempo para tomar as ações mitigadoras. De qualquer forma, um fator está muito explícito em todos esses assuntos e questões, a importância da educação ambiental em todos os países.

Sem um forte nível educacional nas discussões ambientais, um país dificilmente toma as decisões corretas em suas metas e objetivos relacionados à preservação e exploração sustentável de suas riquezas naturais. E, infelizmente, a grande maioria dos países, inclusive muitos dos quais desenvolvidos, aprenderam a valorizar a sua Educação Ambiental depois que deterioraram significativamente a sua fauna e flora. No passado, muitos povos como, por exemplo, os colonizadores vikings na Islândia, não compreendiam totalmente as limitações do território islandês e o impactaram profundamente, tal como Jared Diamond, geógrafo americano da Universidade de Berkeley, exemplifica em seu livro Colapso. No entanto, o povo islandês ao longo dos séculos compreendeu suas falhas e hoje a Islândia é um exemplo de política e educação ambiental, apesar de até hoje promover políticas de recuperação de suas áreas degradadas do passado.

Exemplos como o da Islândia, de nações que exploraram no passado seus territórios sem o devido planejamento e cautela e depois tiveram tempo para modificar os seus hábitos e idéias são exemplos até certo ponto felizes, porque esses povos tiveram a sorte de uma segunda chance. Entretanto, com o aumento dos níveis de ciência e de tecnologia ao longo dos últimos séculos, em especial no século XX, o grau de impacto das atividades humanas ao longo dos atuais territórios se tornou mais forte e amplo, dando menos condições às novas sociedades de terem, como na Islândia, uma segunda chance.

Desse modo, o respeito para com os limites naturais, para com a preservação das florestas, do ar e das águas torna-se uma questão obrigatória, sendo que, ao contrário do passado histórico, muito provavelmente as nações hoje não possuem o privilégio de poder errar para aprender. E é nesse contexto que a educação surge como uma aliada fundamental na tomada das decisões corretas.

O conhecimento de um povo, o seu grau de instrução, a profundidade técnico-científica de suas instituições e o nível de planejamento nas obras e estratégias de um país refletem o seu grau educacional. A educação, portanto, traduz a competência intelectual, o refinamento de pensamento de uma nação, sendo esta uma das maiores riquezas que um povo pode ter. O nível de educação não significa somente a representação da capacidade racional de uma população, mas também a sua esperança em poder sobreviver num mundo cada vez mais complexo, heterogêneo, dinâmico, mutável, instável e, muitas vezes, tomador de rumos geralmente imprevisíveis. O grau de educação de um povo pode ser comparado à sua “apólice de seguro”, ainda mais quando um país como o Brasil encontra-se com significativos desafios de planejamento, principalmente no que se refere aos rumos da fiscalização e proteção de seu meio ambiente.

A inter-relação entre educação e meio ambiente é fundamental não somente para a soberania do Brasil, mas também para a paz de todo o planeta. Observa-se que mesmo com um gradativo e constante desenvolvimento de técnicas e métodos voltados à proteção ambiental aliadas à estruturação de um arcabouço jurídico ambiental moderno, essas são incapazes de proteger a natureza de modo eficiente se a própria população não respeita e não conhece os limites naturais de seu próprio ambiente. Está aí a importância da Educação Ambiental e vendo isso, o governo brasileiro, desde 1999 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9795/99).

Mesmo passados nove anos da promulgação dessa lei, os problemas ambientais no território nacional continuam tal como antes, com os tradicionais casos de desmatamento e queimadas, com a forte presença da poluição atmosférica e hídrica e com a continuidade de muitos problemas relacionados ao planejamento territorial de muitas áreas, cujas diretrizes ambientais na prática ainda não são respeitadas. No entanto, tal como uma árvore que cresce lentamente, as políticas educacionais não são rápidas, as mudanças de hábitos e idéias pré-concebidas podem demorar ainda por muitas décadas e geralmente os hábitos e idéias não se modificam significativamente até que ocorra um fato muito grave na vida cotidiana da própria população. No entanto, a longa via da educação ambiental parece ser a única capaz de proteger o país de um futuro mais sombrio com relação às suas matas, às suas águas, aos seus campos e à sua agricultura.

Não se pode culpar totalmente o próprio povo brasileiro pelos seus exemplos de “insensibilidade” ambiental. Desde o início de sua história, esse povo aprendeu que o importante era produzir riquezas, tentando retirar de seus campos e de sua natureza pródiga o máximo que podia extrair, rezando a cartilha de seus exploradores. Passados os séculos e conquistada a independência, continuou com a mesma ideologia, apostando na abundância de riquezas sem limites de seu território. Na verdade, mesmo há cinqüenta anos atrás, tanto o Brasil como todo o mundo ainda encontravam-se impregnados do pensamento produtivista. O progresso configurava-se como o clímax, o auge de uma região e as florestas eram as adversárias desse progresso. Foi basicamente essa a educação ambiental oferecida ao povo brasileiro no passado.

Com esse pensamento, não é de se estranhar que mesmo com todo o discurso atual relacionado ao desenvolvimento sustentável e à proteção ambiental o país ainda possua hábitos prejudiciais para com as suas florestas como as queimadas e desmatamentos indiscriminados. No entanto, a própria nação sabe que é preciso mudar as suas idéias e os seus hábitos para com o meio ambiente, caso contrário, em um futuro próximo, sofrerá as conseqüências de sua falta de visão. A Educação Ambiental encontra-se engajada nessa luta atroz contra a própria “cegueira” nacional, estimulando o costume de bons hábitos e de lições já tradicionais, mas de fundamental importância, como: o de poupar água e luz, plantar árvores e de evitar jogar o papel no chão até a compreensão de temas mais complexos como o entendimento e o cumprimento das leis ambientais.

O fortalecimento da relação entre educação e meio ambiente não encontra ênfase tão somente para as crianças e adolescentes. Ela também se encontra presente em todas as instituições de ensino superior, em todos os centros de pesquisa e tecnologia, em todas as empresas e indústrias responsáveis, em um grande número de grupos e associações civis e na maioria das ações dos órgãos públicos. Quando se fala em melhorias dos sistemas de água e esgoto, em melhorias nos processos de gestão de bacias hidrográficas, em desenvolvimento do tratamento de efluentes, em economia de energia nos processos de produção, em preservação e replantio de matas ciliares e de reservas florestais, está se realizando a Educação Ambiental. Quando diversos órgãos investem na evolução do planejamento hídrico, no desenvolvimento do setor energético, no fortalecimento das técnicas agrícolas, na preservação das áreas florestais, está se educando ambientalmente uma nação. Quando carros, indústrias e os mais diversos bens de consumo são produzidos respeitando o meio ambiente, aí está sendo realizada também esta Educação.

Um dos maiores desafios para uma nação é reconhecer e modificar hábitos e idéias pré-concebidas quando essas passam a impactar negativamente nas atividades e no próprio cotidiano de um país. Realmente, mudar mentes, mudar hábitos e mudar idéias, são tarefas tão ou ainda mais difíceis do que implantar e desenvolver instrumentos tecnológicos ou sistemas de gestão ambiental, já que esses instrumentos e sistemas de nada adiantarão para a concretização do êxito de um país mais responsável ambientalmente e educacionalmente sem a contribuição e o auxílio dos próprios habitantes. No Brasil, portanto, a discussão ambiental exige de seu povo (assim como no resto do mundo atualmente) uma mudança de postura e de costume significativos, algo que não se implanta da noite para o dia, mas de fundamental importância para a própria sustentabilidade das ações públicas, dado que caso continuemos a não nos importar com a degradação ambiental, iremos arcar com as possíveis conseqüências.
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Comments:
Olá...

Será que poderia inserir o meu blog no seu link "lista de blogs"..


WWW.INFODIREITO.BLOGSPOT.COM

Posso inserir o de vocês em meu blog tb..

Aguardo.

Desde já, grato...

Abraços
Neemias
 
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