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Longa Estiagem à Vista?

quinta-feira, março 20, 2008 11:50:00 AM

Alguns dados chamam a atenção quando são observados, e com certeza esse colunista não foi o único a repará-los. Chama a atenção, no trimestre de dezembro a fevereiro, a média dos volumes pluviométricos registrados nas macrorregiões paranaenses, segundo dados do SIMEPAR. Eles causam certa apreensão com relação ao que será o período de março a setembro, período caracterizado pelas menores quantidades pluviométricas e, consequentemente, maiores períodos de estiagem.

Como se sabe, o final de 2007 e o início de 2008 estão sendo meteorologicamente influenciados pelo fenômeno La Niña, que acarreta tanto no Paraná, como no sul do Brasil, verões menos chuvosos e invernos mais secos e frios. A La Niña, assim como o El Niño, influencia os processos atmosféricos de todo o mundo, sendo originada, ao contrário do El Niño, pela ocorrência de temperatura média da superfície do Oceano Pacífico Equatorial mais baixa. Este ano a TSM do Pacífico Equatorial está até 3ºC abaixo da média, sendo caracterizado este período de La Niña como fraca a moderada. O que se observa é que, com exceção do litoral paranaense, que choveu acima da média, com destaque especial ao mês de janeiro que choveu o dobro do considerado normal, as chuvas das demais regiões se situaram na faixa do normal a abaixo da média pluviométrica mensal, e com um detalhe importante, as chuvas possuíram uma distribuição muito irregular ao longo do Estado, não sendo homogêneas.

Outro detalhe importante refere-se à faixa do que é considerado normal, geralmente considerado entre a média histórica e uma vez mais ou uma vez menos o desvio padrão histórico. As chuvas nas demais macrorregiões que chegaram à “faixa” do normal se mantiveram em algumas regiões muito pouco acima do volume mínimo desta determinada faixa estatística. Os dados revelam que choveu na Região Metropolitana de Curitiba em fevereiro, por exemplo, 116mm (apenas 6mm acima do valor limítrofe para o que é considerado historicamente abaixo do estatisticamente normal). Na região Oeste, importante pólo agrícola do Estado, os três meses foram de precipitações normais, no entanto, com exceção de dezembro ligeiramente mais chuvoso, janeiro e fevereiro mantiveram-se respectivamente a 15mm e 6 mm acima do mínimo valor limítrofe para o considerado normal. Ou seja, o normal pode enganar quando esse normal está seguindo uma tendência de pouco volume pluviométrico e quando essas chuvas apresentam-se, como já dito, muito irregulares.

A situação mais crítica encontra-se nas macrorregiões do Sudoeste e Sul do Estado. Em ambas as regiões os volumes pluviométricos ficaram nitidamente abaixo do valor limítrofe do considerado normal. Mesmo que essas regiões, localizadas mais ao meridiano do Estado, sejam teoricamente mais bem servidas das chuvas de frentes frias ao longo dos meses de abril e maio, estas já se encontram em estado de alerta com relação a um longo período de estiagem. Menção também deve ser dada à macrorregião Norte, cujas chuvas de janeiro ficaram nitidamente abaixo da média e cujo mês de fevereiro foi apenas mediano com relação ao volume pluviométrico. Ressalta novamente, o caráter irregular das chuvas de verão nessa região.

Descrevendo esse quadro de pouca chuva dos três meses historicamente mais chuvosos e a tendência de manutenção do quadro de La Niña por mais alguns meses, temos uma forte perspectiva de um longo período de estiagem. No entanto, quando nos referimos ao comportamento atmosférico, deve-se afirmar sempre com prudência, afinal, as frentes frias podem no outono serem generosas para com o Estado, originando chuvas em grande quantidade e bem mais homogêneas do que as verificadas no verão. No entanto, caso isso não ocorra no outono, mais dificilmente ocorrerá no inverno, sempre mais seco.

Convém as autoridades já se manterem alertas para com a possibilidade de longa estiagem e escassez de água. Exemplos como o de racionamento nas regiões de Francisco Beltrão e Pato Branco, onde as propriedades rurais não possuíam mais água em seus poços artesianos com as famílias dependendo da ajuda de carros-pipa devem ser lembrados. Não há muito tempo as Cataratas do Iguaçu ficaram em um volume hídrico muito abaixo do normal para suas quedas. As principais reservas de água para consumo da região metropolitana de Curitiba (Irai, Piraquara e Passaúna) diminuíram significativamente o seu volume hídrico após a última grande seca no Paraná em 2006. Possibilidade de racionamento de energia e diminuição da quantidade e da qualidade da água consumida também deve ser levada em consideração.

Os processos atmosféricos, incluídos nesses a chuva, são de comportamento aleatório e muitas vezes demasiadamente irônicos, fazendo com que tudo o que esteja escrito nesse texto de fato não ocorra no outono, inverno e princípios de primavera, o que seria, aliás muito bom. No entanto, com os volumes pluviométricos considerados fracos no trimestre mais chuvoso, com a manutenção dos aspectos de La Niña (que não é e ainda não será mais impactante devido à ausência de significativas anomalias negativas da TSM do Atlântico Sul) e com a gradual tendência de exacerbação dos extremos climáticos e de maior sazonalização das estações secas e chuvosas, o prenúncio de um forte período de estiagem e seca é proeminente.

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Comments:
Bem escrito, claro e fácil de ler.
 
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