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LE MONDE
Johannesburgo é envenenada por águas tóxicas

Sébastien Hervieu
Krugersdorp (África do Sul) Seja o primeiro a comentar
O subsolo da região, que virou um queijo suíço, foi explorado durante mais de um século devido à extração do ouro

As raízes das rosas que cercam o lago estão laranja, da cor do ferro que ali se depositou. A água é turva. Faz anos que os animais do parque protegido de Krugersdorp, a oeste de Johannesburgo, não vêm mais beber aqui. O coquetel é tóxico, composto por ácido sulfúrico, metais pesados e elementos radioativos. Dois hipopótamos estão ficando cegos, segundo especialistas.

“Cada vez que eu venho, fico revoltada, não consigo acreditar que nada está sendo feito”, conta Mariette Liefferink, diretora da Federação do Meio Ambiente Sustentável (FSE). A alguns quilômetros de lá, a água poluída começa a se infiltrar nas grutas do “Berço da Humanidade”, onde foram descobertos vários fosseis de hominídeos. O sítio faz parte da lista do Patrimônio Mundial da Unesco desde 2000.

Daqui a um ano, se nada for feito, os 4 milhões de habitantes de Johannesburgo, capital econômica da África do Sul, poderão constatar com seus próprios olhos o escoamento dessa água tóxica em sua cidade, a drenagem ácida de minas, e assim pagar o preço daquilo que fez a riqueza de “Egoli”, “a cidade do ouro”. Durante quase 120 anos, as companhias mineradoras exploraram o subsolo da região para dela extrair o precioso metal. Mas no final dos anos 1990, as últimas minas fecharam e as bombas que serviam para manter secas as galerias perfuradas foram parando de funcionar. Em um subsolo que virou um grande queijo suíço, a água das chuvas reapareceu, e depois voltou a entrar em contato com o ácido sulfúrico presente ao longo das paredes, resultante da oxidação da pirita (um sulfeto de ferro).

Já em 1996 as autoridades sul-africanas haviam sido alertadas de que a oeste de Johannesburgo, onde se situa o parque de Krugersdorp, a decantação iria começar no início dos anos 2000. Mas nenhuma medida foi tomada até agora. Falta de conscientização da gravidade do problema? Carência técnica? Falta de verbas? Diversas razões são apresentadas para explicar essa longa negligência.

“Não se deve entrar em pânico”

Será que ela terá um fim? Na terça-feira (22), o governo anunciou que iria tomar medidas para diminuir o nível de decantação e purificar a água tóxica. “Não se deve entrar em pânico”, repetiu Trevor Manuel, presidente da Comissão Nacional do plano, que se comprometeu a instalar uma bomba em março de 2012 para manter um nível de água poluída a mais de 200 metros da superfície.

O governo sul-africano garantiu estar conversando com as companhias mineradoras a respeito do financiamento dessas medidas. Todos os custos ligados à exploração de minas abertas desde 1956 devem ser por conta das empresas extratoras. Mas a maioria delas deixou a África do Sul há muito tempo. “Essas multinacionais ganharam muito dinheiro explorando as riquezas do país”, constata amargamente Mariette Liefferink, “e hoje elas nos deixaram a conta, essa poluição que ainda fará vítimas durante décadas”.

Segundo especialistas, a água sob Johannesburgo, atualmente a 500 metros de profundidade, estaria subindo de 50 centímetros a 1 metro a cada dia. Eles calculam que, a partir do primeiro semestre de 2012, 60 milhões de litros de água tóxica, o equivalente a trinta piscinas olímpicas, poderão sair da terra a cada dia se o plano do governo não for de fato colocado em prática. A água apareceria no subúrbio, na cidade de Boksburg. Nas proximidades do museu do Apartheid, o parque de diversões de Gold Reef City de Johannesburgo, no qual os turistas podem penetrar a 200 metros abaixo da terra para visitar uma mina de ouro, seria o primeiro a ser atingido.

A mistura ácida poderá corroer as fundações de diversas construções situadas no centro de Johannesburgo. “É possível, mas o risco é pequeno”, relativiza Anthony Turton, um especialista em gestão da água. “O principal problema é uma contaminação dos rios vizinhos.” Os habitantes de Johannesburgo consomem água proveniente em sua maior parte de Lesoto, pequeno país vizinho, mas a preservação da qualidade da água pode aumentar a conta do cidadão.

As principais pessoas ameaçadas são as mais pobres, que vivem nas townships na periferia da cidade. A água corrente não é um serviço acessível a todos, e algumas pessoas devem se resignar a lavar seus legumes, ou até beber a água dos riachos que correm nas proximidades.

“O arsênico faz mal ao sistema nervoso, o mercúrio prejudica o desenvolvimento do feto, etc.; imagine o efeito do coquetel da drenagem ácida das minas sobre o organismo de uma pessoa que estaria exposta a ele de maneira crônica!”, alerta a Dra. Jo Barnes, epidemiologista na Universidade de Stellenbosch. Os especialistas falam também em riscos de câncer, problemas renais para pessoas com poucos recursos, muitas vezes já vulneráveis a doenças como a Aids ou a tuberculose. Os danos ao ecossistema também só deverão ser conhecidos daqui a vários anos.

Tradução: Lana Lim


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