

Da Folha de São Paulo/UOL
21/01/2011 - No Quênia, uma erva tóxica invade a savana
O “parthenium” foi introduzido em um parque natural onde acontece a maior migração de herbívoros do planeta
Ninguém sabe como o Parthenium hysterophorus entrou no parque nacional de Masai Mara, no sudoeste do Quênia. Mas a ameaça foi considerada séria o suficiente para que fosse lançado um alerta junto à comunidade científica internacional: “Uma erva tóxica ameaça o maior espaço de migração selvagem do planeta”, adverte a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), em um comunicado.
Na fronteira da Tanzânia, o Masai Mara é uma extensão do imenso parque de Serengeti, onde vivem as maiores populações de herbívoros do continente. Todos os anos, em um balé que se perpetua desde a antiguidade, na estação chuvosa milhões de gnus, gazelas, zebras e girafas deixam as savanas tanzanianas em direção às planícies quenianas, em busca de novos pastos e fontes de água. Alguns meses mais tarde, por volta de dezembro, os animais fazem a viagem no sentido inverso, fechando uma migração de centenas de quilômetros. Mas o que acontecerá se a gramínea originária da América Central invadir esse refúgio da fauna selvagem?
O parthenium, mais conhecido como “losna-branca”, está entre as dez pragas vegetais mais perigosas. Ele pode chegar a dois metros de altura e termina em belas florezinhas brancas. Até hoje, sua presença só foi notada ao longo de caminhos de terra que percorrem a reserva natural, bem como às margens do rio Mara que penetra o Serengeti.
“É muito difícil dizer quanto tempo será necessário para que a invasão se estenda para todo o parque, pois isso depende de inúmeros fatores, como as condições climáticas, em especial”, explica Arne Witt, coordenador para a África do programa de combate às espécies invasivas da ONG científica CABI (Center for Agricultural Bioscience International). “Mas o exemplo da vizinha Uganda mostra que isso pode acontecer rápido. A planta foi notada pela primeira vez há três anos, e agora se encontra em várias regiões. Se você considerar o fato de que ela chega à maturidade em quatro a seis semanas e pode produzir de 10 mil a 25 mil sementes, então, sim, a contaminação pode progredir muito rapidamente”, alerta Arne Witt.
Sob as latitudes africanas, nenhum inseto predador vem impedir sua expansão, ao contrário do que acontece na América Central. Os cientistas conhecem muito bem os prejuízos que podem ser causados por essa planta, que figura há décadas nas listas vermelhas das espécies invasivas da Índia e da Austrália. Na região australiana de Queensland, os agricultores enfrentam os baixos rendimentos de certas culturas e a intoxicação do gado. Isso porque, além de sua capacidade de espantar as outras formações vegetais e de infestar as plantações, os efeitos nocivos do parthenium sobre a saúde são bem documentados: queimaduras ao contato com a pele, dificuldades respiratórias causadas por seu pólen...
Na África, a Etiópia foi o primeiro país a ter sido contaminado, no início dos anos 1980. Sem que houvesse certezas a respeito, a hipótese difundida com mais frequência propunha que a erva daninha teria sido importada junto com os carregamentos de ajuda alimentar encaminhados como resposta à fome que na época castigava o Chifre da África. Desde então ela se alastrou para Uganda, Tanzânia, Moçambique, Zimbábue, Somália e África do Sul, por superfícies de tamanhos variados.
“Perigo número um”
“Se nenhuma medida for tomada em Masai Mara, poderemos assistir a uma redução maciça de áreas de pasto da fauna selvagem”, teme Geoffrey Howard, da unidade queniana do UICN. “Os animais não comerão o parthenium, pelo menos em um primeiro momento, mas quando estiverem famintos, não terão outra escolha”.
O partheninum não é a única praga vegetal que ameaça as superfícies selvagens do Quênia. A erva do Laos (Chromolaena odorata) e o cambará (Lantana camara) também atraem a vigilância dos naturalistas. Mas para Arne Witt, “o parthenium representa o perigo número um”.
Sua organização, que trabalha em colaboração com o Kenyan Wildlife Service (KWS), o organismo público que administra todos os parques nacionais do Quênia, elaborou um plano de erradicação. Existem diversas opções. “O ideal seria trazer uma resposta biológica – introduzindo, por exemplo, um inseto predador - , mas isso é extremamente custoso. Uma outra solução consiste em utilizar herbicidas, mas ela não é muito apreciada pelos doadores que muitas vezes financiam os programas”, reconhece Witt. “Então certamente iremos optar por uma resposta manual, contando com o apoio das comunidades locais para limpar as zonas infestadas”.
A operação poderia ser conduzida em algumas semanas, mas isso será somente uma primeira etapa. “As sementes do parthenium podem permanecer dormentes no solo durante vários anos antes de germinar, então é indispensável que seja previsto um plano de monitoramento para os cinco próximos anos”, afirma o especialista do CABI, que estima o custo do dispositivo em no mínimo US$ 65 mil (cerca de R$ 108 mil).
A soma pode parecer irrisória diante do patrimônio natural a ser preservado. Mas “para nós é uma grande soma, e precisaremos de apoios externos”, prevê a Dra. Judith Nyunja, da KWS. Seja como for, hoje o caso está nas mãos das autoridades quenianas.
Tradução: Lana Lim
21/01/2011 - No Quênia, uma erva tóxica invade a savana
O “parthenium” foi introduzido em um parque natural onde acontece a maior migração de herbívoros do planeta
Ninguém sabe como o Parthenium hysterophorus entrou no parque nacional de Masai Mara, no sudoeste do Quênia. Mas a ameaça foi considerada séria o suficiente para que fosse lançado um alerta junto à comunidade científica internacional: “Uma erva tóxica ameaça o maior espaço de migração selvagem do planeta”, adverte a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), em um comunicado.
Na fronteira da Tanzânia, o Masai Mara é uma extensão do imenso parque de Serengeti, onde vivem as maiores populações de herbívoros do continente. Todos os anos, em um balé que se perpetua desde a antiguidade, na estação chuvosa milhões de gnus, gazelas, zebras e girafas deixam as savanas tanzanianas em direção às planícies quenianas, em busca de novos pastos e fontes de água. Alguns meses mais tarde, por volta de dezembro, os animais fazem a viagem no sentido inverso, fechando uma migração de centenas de quilômetros. Mas o que acontecerá se a gramínea originária da América Central invadir esse refúgio da fauna selvagem?
O parthenium, mais conhecido como “losna-branca”, está entre as dez pragas vegetais mais perigosas. Ele pode chegar a dois metros de altura e termina em belas florezinhas brancas. Até hoje, sua presença só foi notada ao longo de caminhos de terra que percorrem a reserva natural, bem como às margens do rio Mara que penetra o Serengeti.
“É muito difícil dizer quanto tempo será necessário para que a invasão se estenda para todo o parque, pois isso depende de inúmeros fatores, como as condições climáticas, em especial”, explica Arne Witt, coordenador para a África do programa de combate às espécies invasivas da ONG científica CABI (Center for Agricultural Bioscience International). “Mas o exemplo da vizinha Uganda mostra que isso pode acontecer rápido. A planta foi notada pela primeira vez há três anos, e agora se encontra em várias regiões. Se você considerar o fato de que ela chega à maturidade em quatro a seis semanas e pode produzir de 10 mil a 25 mil sementes, então, sim, a contaminação pode progredir muito rapidamente”, alerta Arne Witt.
Sob as latitudes africanas, nenhum inseto predador vem impedir sua expansão, ao contrário do que acontece na América Central. Os cientistas conhecem muito bem os prejuízos que podem ser causados por essa planta, que figura há décadas nas listas vermelhas das espécies invasivas da Índia e da Austrália. Na região australiana de Queensland, os agricultores enfrentam os baixos rendimentos de certas culturas e a intoxicação do gado. Isso porque, além de sua capacidade de espantar as outras formações vegetais e de infestar as plantações, os efeitos nocivos do parthenium sobre a saúde são bem documentados: queimaduras ao contato com a pele, dificuldades respiratórias causadas por seu pólen...
Na África, a Etiópia foi o primeiro país a ter sido contaminado, no início dos anos 1980. Sem que houvesse certezas a respeito, a hipótese difundida com mais frequência propunha que a erva daninha teria sido importada junto com os carregamentos de ajuda alimentar encaminhados como resposta à fome que na época castigava o Chifre da África. Desde então ela se alastrou para Uganda, Tanzânia, Moçambique, Zimbábue, Somália e África do Sul, por superfícies de tamanhos variados.
“Perigo número um”
“Se nenhuma medida for tomada em Masai Mara, poderemos assistir a uma redução maciça de áreas de pasto da fauna selvagem”, teme Geoffrey Howard, da unidade queniana do UICN. “Os animais não comerão o parthenium, pelo menos em um primeiro momento, mas quando estiverem famintos, não terão outra escolha”.
O partheninum não é a única praga vegetal que ameaça as superfícies selvagens do Quênia. A erva do Laos (Chromolaena odorata) e o cambará (Lantana camara) também atraem a vigilância dos naturalistas. Mas para Arne Witt, “o parthenium representa o perigo número um”.
Sua organização, que trabalha em colaboração com o Kenyan Wildlife Service (KWS), o organismo público que administra todos os parques nacionais do Quênia, elaborou um plano de erradicação. Existem diversas opções. “O ideal seria trazer uma resposta biológica – introduzindo, por exemplo, um inseto predador - , mas isso é extremamente custoso. Uma outra solução consiste em utilizar herbicidas, mas ela não é muito apreciada pelos doadores que muitas vezes financiam os programas”, reconhece Witt. “Então certamente iremos optar por uma resposta manual, contando com o apoio das comunidades locais para limpar as zonas infestadas”.
A operação poderia ser conduzida em algumas semanas, mas isso será somente uma primeira etapa. “As sementes do parthenium podem permanecer dormentes no solo durante vários anos antes de germinar, então é indispensável que seja previsto um plano de monitoramento para os cinco próximos anos”, afirma o especialista do CABI, que estima o custo do dispositivo em no mínimo US$ 65 mil (cerca de R$ 108 mil).
A soma pode parecer irrisória diante do patrimônio natural a ser preservado. Mas “para nós é uma grande soma, e precisaremos de apoios externos”, prevê a Dra. Judith Nyunja, da KWS. Seja como for, hoje o caso está nas mãos das autoridades quenianas.
Tradução: Lana Lim
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