Quem compra, governa
sexta-feira, janeiro 23, 2009 11:33:00 AM A objetivo da quebequense Laure Waridel, com sua tese de que comprar é votar ou seja, "Acheter c'est voter" parece estar se realizando, mas por uma via paralela. A crise econômica que assusta as bolsas é alimentada pelos consumidores, só que neste caso ela segue uma outra lógica que não é a lógica do consumo responsável, como propõe Waridel com o exemplo do café. A lógica desencadeada pela crise das hipotecas é a lógica do medo; medo de perder o emprego, de ver suas economias derreterem a cada boleto bancário, de perder o carro, a casa, o inquilino, de não poder sustentar o mesmo nível de vida que tem levado durante todos estes anos, de não ter como garantir uma aposentadoria como previsto. Resultado: menos consumo.O medo do consumidor fez a meca do governo neo-liberal intervir no mercado, violando o princípio fundamental do neo-liberalismo: o do auto-controle da economia. O medo do consumidor está fazendo algo que ja deveria ter sido iniciado durante a crise do petróleo nos anos 70s: forçar a indústria automobilística a investir em tecnologias menos poluentes e estimular a indústria de veículos voltados ao transporte coletivo. O medo do consumidor está provocando a deflação, a baixa das taxas de juros e, ao mesmo tempo, o desemprego, a diminuição da jornada de trabalho ou a baixa dos salários.
Os consumidores estão determinando qual será o futuro das grandes empresas, as mesmas que financiaram campanhas dos políticos, fabricando-os com a mais alta tecnologia de marketing. Sem ter consciência de que comprar é governar, o consumidor está provocando algo que havia sido proposto nos anos 80: o crescimento zero e a possibilidade de equilíbrio entre trabalho manual e intelectual, de dedicação de mais tempo à vida familiar, ao enriquecimento das relações humanas, à solidariedade, ao desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável.
O objetivo de Waridel de estimular um consumo movido por uma responsabilidade ética talvez se realize quando os consumidores descobrirem o que fizeram e decidirem aproveitar desta oportunidade oferecida pela crise para mudar radicalmente a ordem mundial e o destino do planeta.
Agora que sabemos que consumir é governar o mundo, qual é o nosso plano de governo?
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