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Os Índios, a Floresta, os Rancores e a Atualidade

sexta-feira, maio 30, 2008 5:44:00 PM

Nas mentes de muitas pessoas, a interpretação dos fatos e da própria História pode muitas vezes ter matizes ingênuas. Uma dessas interpretações é de que os índios vivem em um mundo à parte da Humanidade, como se não fossem da mesma espécie humana, mas de outra paralela. Outra idéia que segue na mente da maioria das pessoas é de que todos os índios são de convicções puras com relação à floresta, sempre protetores do verde, e de que o homem urbano é a encarnação do mal nessa questão. A verdade é que nem todos os índios estão protegendo suas florestas, assim como nem todos os homens urbanos são destruidores da floresta e desrespeitadores do meio ambiente, mesmo porque muitos índios inevitavelmente tornaram-se capitalistas e muitos homens urbanos tornaram-se protetores das florestas. Desse modo, a realidade dos fatos nunca é de simples interpretação, sempre se constituindo de complexa análise.

Todavia, alguns fatos devem ser explicitados para o bom entendimento desse texto. Os índios, primeiros moradores do continente americano, tiveram sua cultura e seus costumes rechaçados pelos colonizadores europeus, seus povos dizimados por eles e suas vozes literalmente ignoradas e por muito tempo esquecidas. Os povos indígenas foram tão brutalmente colonizados que os colonizadores, desde o princípio, sempre tiveram dificuldade de olhar e tratar o índio como ele realmente é. E como o índio é? O índio é um ser humano que possui suas necessidades como todos os demais seres humanos e por isso mesmo possui os seus direitos e seus deveres como cidadão que é. O índio brasileiro é um cidadão brasileiro, um cidadão com cultura e características próprias, possuidor dos seus direitos e dos seus deveres.

No Brasil Colônia o índio era o bárbaro selvagem e sem alma. No século XIX a literatura o colocou como o ser puro e quase surreal, protetor das matas, dotado de natureza ingênua. Guerreira, mas ingênua. O índio, assim como os demais cidadãos, é tão bom quanto mau, e anseia por qualidade de vida, por dinheiro, por oportunidades, por empregos assim como qualquer outro habitante desse país. O índio cada vez mais anseia pelo capital e não raras vezes é seduzido pela prática de ações ilícitas para com sua própria floresta, referindo-se àqueles que vivem em reservas indígenas. Ele, como todos os demais seres humanos, possui também rancor, e rancor histórico. Rancor de quinhentos anos de abusos por parte dos colonizadores. Rancor por ter sido tratado, por muitos séculos, como um indivíduo de terceira classe. Rancor de ter tido suas terras tomadas, seus rios poluídos. Sim, o índio tem inúmeros motivos para guardar rancor.

Nas últimas duas décadas, a política do Governo Brasileiro, com o desenvolvimento de sua Política Ambiental, diretamente aprofundou também sua política para com os indígenas. Antes os índios constituíam uma classe totalmente marginalizada, uma verdadeira classe de párias sociais. Hoje, essa classe continua em muitos aspectos marginalizada, no entanto, com alguns direitos adquiridos e com algumas tribos conseguindo posses sobre áreas florestais, transformando, o governo, essas áreas em áreas indígenas. Essas áreas, muitas vezes, são muito extensas, dotadas de um grande potencial exploratório, porque não raro, possuem ouro, diamantes, pedras preciosas, além de madeiras de lei. Pela caneta do Palácio do Planalto, talvez essa imbuída de um escondido mea culpa, transformaram, da noite para o dia, tribos que antes não tinham nada, em tribos milionárias. E assim as coisas mudam de lugar.

Mudam porque o índio antes miserável agora se tornou um ator da floresta. Mudam porque os olhares de desprezo tornaram-se olhares de cobiça. E dessa forma, esses povos que antes não eram valorizados agora serão mais e mais ouvidos. E assim, a auto-estima desses povos, muda também radicalmente, de vítimas diretas da depressão e do álcool para uma classe que faz renascer seu orgulho de ser índio, cantando suas músicas, pintando suas faces e não raro preparando-se para a guerra, para proteger os benefícios que há muito pouco tempo acabaram de conseguir. Hoje, na mídia, são freqüentes as notícias de protestos indígenas, algumas delas chocantes. E existem grupos que discutem o novo poder indígena, seus limites, seus direitos e seus deveres como cidadão, perpetuando a clássica luta pelo poder, agora com aqueles que não tinham e agora tem um pouco (os indígenas) contra aqueles que tinham muito e vêem nascer um novo grupo que pode, no futuro, importunar.

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