Adversidades climáticas
sexta-feira, janeiro 25, 2008 10:42:00 AM Nos dias atuais o estudo da climatologia encontra-se em voga, com especial ênfase ao estudo das adversidades climáticas. O mundo inteiro acompanha com preocupação a questão das variações climáticas, especialmente a tendência mundial de aquecimento global, desencadeada por uma exacerbação do efeito estufa, causada, por sua vez, pelas atividades antrópicas como a poluição intensa e as queimadas. O Brasil, maior país em extensão da América do Sul também se encontra muito envolvido com o estudo das variações climáticas em suas regiões. Dentro desse contexto, foi elaborada a tese de Doutorado Análise das adversidades climáticas no Oeste Paulista e Norte do Paraná pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Presidente Prudente.O trabalho possui como objetivo principal o estudo da ação dos mecanismos atmosféricos que atuam na região e que desencadeiam eventos climáticos extremos que podem originar as adversidades climáticas, além do estudo de indícios de variações climáticas regionais no período de 1976 a 2003. Desse modo foram analisados 27 anos de dados meteorológicos correspondentes às Estações Meteorológicas de Presidente Prudente (FCT/UNESP), Maringá (ECPM) e Londrina (IAPAR), no qual foram tabulados, organizados e interpretados dados diários, mensais e anuais correspondentes às variáveis: temperatura, precipitação, umidade relativa e ação dos ventos. Dentre esses 27 anos de dados, três anos foram escolhidos para a utilização da técnica de análise rítmica proposta por Monteiro (1976) para um melhor conhecimento do ritmo climático regional e dos eventos climáticos extremos regionais. Os anos escolhidos foram de 1997 e 1998 (anos de atuação de El Niño) e 2001 (ano de padrão climático mais habitual). Após a interpretação de todos esses dados diários, mensais e anuais foram criados 108 gráficos de análise rítmica, 108 gráficos de eventos climáticos, 54 figuras, 67 tabelas e 36 gráficos síntese que revelam as principais características climáticas do Oeste Paulista e Norte do Paraná.
Após a realização da metodologia de pesquisa, alguns resultados significativos foram obtidos. Primeiramente, constatou-se um aquecimento regional na ordem de um grau Celsius de média para as cidades de Presidente Prudente, Maringá e Londrina no período estudado de 1976 a 2003, confirmando a tendência mundial de aquecimento global para a região. No entanto, deve ser ressaltado que tal elevação na temperatura média também pode ter sido ocasionada pela expansão da malha urbana sobre as Estações Meteorológicas. Entretanto, a estação da IAPAR de Londrina, localizada em área rural no período estudado, apresentou a mesma tendência de aquecimento na ordem de um grau Celsius como em Maringá e Presidente Prudente, fortalecendo ainda mais a hipótese do aquecimento.
Outro resultado relevante foi a observação de um processo de sazonalização climática regional, onde o período chuvoso (dezembro a fevereiro) apresentou um acréscimo de 7 a 10% nas precipitações e as chuvas de outono e primavera, por sua vez, um decréscimo de 4 a 6%. O período seco não apresentou variações significativas das chuvas. Dessa forma, os períodos chuvosos tendem a ficarem mais chuvosos e os períodos secos mais extensos, acarretando em uma concentração maior das chuvas de dezembro a fevereiro e uma maior distinção entre o período seco e o chuvoso.
Segundo a análise rítmica efetuada, chuvas com mais de 50 mm em 24 horas e ventos com rajadas superiores a 46 km/h, apesar de impactantes, são freqüentes na região. Foram reportados 17 eventos de chuvas intensas nos três anos pesquisados em Presidente Prudente, 28 eventos em Londrina e 32 eventos em Maringá. Com relação à ação dos ventos, com velocidade absoluta superior a 46 km/h, esses ocorreram 108 vezes em Londrina e 158 vezes em Presidente Prudente em 1997 – 1998 – 2001.
Outro dado relevante está na valorização, por parte da tese, da ação do Sistema Equatorial Continental, atuante na região principalmente de outubro a março. Esse sistema quente e úmido, proveniente da região amazônica, provém a área de estudo com umidade. Sua ação “potencializa” a evolução das Frentes Frias em seu trajeto mais continental e promove, além da ação dos próprios sistemas frontais, a formação de Instabilidades Tropicais, Complexos Convectivos de Mesoescala e da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Esses sistemas instáveis são vitais para a agricultura regional, em especial à safra de verão, e, caso o desmatamento das regiões amazônicas continue, o bioma amazônico poderá ser afetado, alterando também a ação desse sistema atmosférico, ocasionando por sua vez, prejuízos altamente significativos nas safras futuras do Centro-Sul Brasileiro.
Desse modo, o trabalho ressalta a tendência climática regional, nos próximos 30 a 40 anos, de exacerbação dos extremos, ou seja, divulga a maior freqüência de períodos de estiagem severa e de períodos de enchentes para o futuro próximo, sendo cada vez mais comum a ocorrências das referidas adversidades climáticas, através de eventos de tempestades, ventanias e de secas prolongadas. Cabe, portanto, à sociedade regional e nacional adotar medidas para ao menos amenizar essa tendência negativa, como por exemplo: exigir o cumprimento das leis ambientais por parte das autoridades, respeitar definitivamente o meio ambiente e seus limites e restaurar áreas ambientais degradadas; condições essas todas de difícil execução cujos resultados somente virão em longo prazo, caso a conscientização ocorra.
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